4.11.06

correspondência da chuva.


my dear,

o fluxo interminável das horas que chovem: meu corpo chove, o dia chove, deus chove. estou sendo o mais sincero do que posso nesta correspondência. e a sinceridade é uma ofensa porque ela é o agora. não o flashback ou o flash-forward dos frames. o retrocesso da memória nos dias só aponta para o indeterminado, o imprecioso do que me lembro. por outro lado, o avanço é uma fábrica de fantasias, desejos, ilusões. hoje chove e há filosofia demais nos bueiros, nos esgotos, na baía. chove e te conto a mais pura verdade: o amor é uma ferida que nunca se fecha. amor unheimlich que eu mantinha secreto, escondido, recalcado. então, vejo teu rosto flutuando no meio das poças, na vidraça molhada, num copo de água. e tenho medo que a casa esteja sendo tomada novamente. então fecho as gavetas, as portas, os armários. e me enrosco nos cobertores. desligo as luzes e adormeço num sonho bom. enquanto as horas inexoráveis choram e chovem. intermináveis. dentro e fora do meu corpo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Saiu!
É lindo!
Me fez lembrar que hoje começa o horário de verão. Vamos mexer no tempo. Vou cuidar para não me intrometer hoje, que o poeta está todo de armas guardadas, mais frágil, como menino que é.
Abraço

Anônimo disse...

...no entanto, devemos lembrar que a memória é seletiva, ou seja, o que rememoramos em nada lembra algo sem valor dado seu caráter de escolha, de juízo de valor. Algumas referências disto podem ser vistas em Le Goff e Bergson, dentre outros.

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