11.2.07

carta de resistência.


honey,

a calmaria retornou aos meus pés, inteiramente grata, embora exausta desta noite passada aos delírios e murmúrios. sonhei com botas embrulhadas, bagagens partindo de madrugada, bilhetes passados por baixo da porta. foi um noturno medroso, no qual eu deitava na cama chorando baixinho. tive outros sonhos: eu era um menino e minha caixinha de fantasias caía das mãos ao som da estática dos rádios. nada de música, só um chiado elétrico, rouco, de intermitências e vozes fugindo. então uma porta se fechava e alguém ia embora. meu coração se apertava e rodava feito um pião. acordei suando, as mãos tocando o telefone. não havia sinal, nem sinal de ninguém. queria ouvir tua voz, meu bem. que medo infantil de perda e desencontro. será que é sempre assim a gente querendo ser único e especial? eu moro num lugar só seu, você habita um lugar só meu. sem coincidência alguma é o mesmo lugar. (a física abaixa as orelhas e não nos incomoda em nosso canto mágico). não te contei antes, mas eu venho de uma cidade chamada resistência. cidade onde acontece a resistência de amor. e também a bravura, a coragem, a espera tão grande por aquilo que perdura e vence: dois corações em território-nação. eu fui sincero ao dizer que te espero o tempo todo. (minha cidadania não me contradiz). os risos sumiram durante a noite: eram os rios que transbordavam, levando margens e pontes. um quarto vazio, um exílio, restava depois da enchente. senti tanto medo de soltar tua mão, de sentir teus olhos de adeus em palavras mornas. mas logo me acalmei com tuas orações de joelhos lá na missa, pedindo aos céus por uma estrela madrinha, noivando de azul e branco nossas casas. estou tão calmo depois que teu afeto desceu os dedos pelo meu cabelo. agora que, com gratidão, me deito aos pés e te beijo. estalado e levemente doce. (da janela da noite também atiro beijos ao deus destino, o bem feitor que nos cruzou num só caminho)

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