24.2.07

mares de amores.


honey,

a água salgada recuou até onde o horizonte queima. o recuo deixou expostos os destroços de embarcações destemidas. o oceano que era você se fechou por dentro como uma ostra. e era por medo de que longe demais eu fosse nas tuas águas ou receio de que eu desembarcasse nos teus portos. não me ouviu esta noite. nem ouvi teu marulhar de prata. talvez nenhuma só voz resista ainda agora ao teu silêncio. algo foi resolvido, mas não foi comunicado. não descolo os ouvidos da rádio. off. nem estática. eu me perdi nessas rotas e pedi pra não saber mais. me diz agora quem é que perdeu? teu mar e meu barco por certo são perdedores. love, interrupted. e sabendo não ser de astrolábio a minha culpa, ainda assim, como qualquer capitão, eu naufrago com meu corpo de navio até o fundo. minha teimosia, amor meu mar, é maior que o meu amor próprio: de joelhos, a teus pés, ainda te faço as mesmas juras, mesmo que o oceano inteiro recue para depois de onde o sol nasce. mesmo que o oceano esteja seco e o sol tenha se posto, ainda estarei desejando ser a pele que cobre teu corpo. arrasado, arrastado, arranhado, aqui estou: sereia coxa e sem encantos. meu canto é quase um grito, um gemido. por que não me ouve se te amo tanto? por que não faz refluxo e volta a molhar meus pés e mãos? e volta a me amar onde tudo começou - no mar, à beira da praia - onde roubei os primeiros mapas de onde existia futuro. (meu mar, meu mar, tuas águas não são as lágrimas de portugal. são as mágoas do além mar, lá onde eu ainda choro e espero te encontrar. meu futuro, um rio).

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