5.4.08

o signo teu.


my dear,

sinto a dor do crescente no meu corpo. há quem não saiba, nem nunca tenha ouvido falar no assunto. minha mãe era quem me dizia: 'filho, crescer dói. os ossos estalam e o corpo inteiro se contrai num esgar. um dia você aprende que viver é uma dor que só.' estou beirando os 27 e sobre logo sinto tanta dor. mais do que dor, eu sinto é medo. um medo contínuo de ser alguém, que é muito maior do que o terror de não ser ninguém. digo isso porque significar é mais doloroso que a completa falta de sentido. o vazio e o nonsense, eu acho, fazem parte de uma vida mais feliz. mas veja só: eu tenho alguém que amo e que nada sabe. não sou nada em sua vida e tudo parece tranquilo. impossível é imaginar ter algum significado para tão grande esperança. qualquer tentativa de dar sentido ao que sinto pode fazer o objeto se perder. e, uma vez perdido, pode desaparecer para sempre. melhor é me perder sozinho. e mesmo eu não sendo nada agora, nem nunca tendo desejado ser, às vezes eu percebo: uma distância a mais, uma palavra a menos. às vezes, sou eu quem invento mais do que vejo. e não conseguindo fingir, prefiro fugir, me enfiar na toca inteiramente feita por um coelho. um coelho pensante que sabia, e sabia e sabia que significar é um segredo íntimo. a indiferença, eu sei, também fere ou tira um instantâneo das feridas. ainda assim acredito que viver à sombra é menos perigoso que tudo. mesmo que quisesse, que signo seria eu numa constelação que ensaia passos de dança, que diz entender da percepção do outro? não, eu não acredito que sou um nome insignificante. conheço meus sons e meus dons. não preciso que me digam isso. só que me sinto um pouco signo errante, exilado, desterritorializado nas bordas daquele corpo. por isso eu leio os avisos de um dorso intransitivo e intransitado: o meu. (...) esqueça o até agora (...) na verdade eu menti. e menti mal. porque ser ninguém para alguém é a pior coisa do mundo. e pior ainda é quando voluntariamente, ou nem tanto, te fazem sentir assim. sei que alguma coisa mudou, dear, tenho certeza, embora não me diga e me negue o direito à verdade. está claro que eu escrevi o cartão errado, pelo avesso, sem endereço de retorno. e se eu usei meu corpo para me expressar foi porque não tive palavras; se houve palavras, essas foram feitas da minha carne, do alfabeto inteiro e interno de mim, sem querer. e se eu sinto dor não é apenas porque eu cresço, e, sim porque para fazer os ossos mais longos eu tive que me esvaziar de mim. tive que vomitar cada parte que adorava tu e a ti secretamente pertencia. se eu sinto tanto medo agora é porque, por falta de coragem, eu não tentei ser alguém para tua pele e teus pêlos. medo da covardia de te desamar e de esquecer que o sonho é a coisa mais linda, mesmo esquecida, platônica e perdida. medo de que se eu pudesse, seria todos os desejos velozes à flor da pele, de uma pele feita das flores, dos perfumes e dos pensamentos teus.

Um comentário:

Fabiana Farias disse...

lindo,sensível e universal como sempre! Sempre vale o passeio no seu blog!
beijos grande

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