25.7.09

sirenas


você,


vivo é quem está morto. acabei de me lembrar. e por que apagar as digitais, as entradas na carne, as marcas de gênero e o número de amantes naquilo que escrevo? por que fazer de alguém especial apagamento e rasura em uma placa de argila? faço a passagem consciente da negação, atomizo o semblante amado no número de caracteres e letras rasgadas em seda. deus nos criou do barro para que fôssemos a matéria que se forma lentamente nas mãos do outro. palimpsesto: rasuro o monturo que leio e quero outro discurso. qual artesão fez seu corpo, seu sexo, qual encantamento deu vida ao rosto de argila mole no qual escrevo? seria melhor ser uma canção de fogo que o coração ventríloco do meu corpo. aprendi que não posso exigir o amor de ninguém. então deixo a bêbada sereia desconhecida seguir-me. posso dar boas razões para que me ame. outras melhores, talvez, de todas que já dei. e o balanço do mar e a paciência do homem podem fazer o resto. e o que me resta se o destino me traçou? suspeito que minha história esteja inscrita em mármore ou rocha bruta, sem possibilidade de revisão. então é outra história: vivo, eu já morro.

Um comentário:

Preta disse...

consciência darwiniana,
bohemia de Jobim,
e muito alcool.

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