10.11.09

calendário infinito


dear,

há dias em que eu preciso inventar a paixão para não morrer. para não entregar os pontos, as fendas por trás dos joelhos, o doce da virilha. mas nem sempre é o melhor a ser feito. às vezes é preciso invocar o nome da guerra, criar a guerra no seio. arrasar o pavilhão de hibiscos cheio de cheiros de flor suada. tudo para extinguir a última porção de músculo, fazer das tripas o coração suado do menino. dear, há dias que preciso inventar a mim mesmo, borrar os limites da caricatura, fazer outro nariz, boca, queixo. talvez pintar os olhos de outra fundura, menos de eclipse e mais de buraco negro. encher o corpo da luz mais próxima, aquela, atravessadora de milhares de fragmentos e piscinas de sol. uma luz gêmea das lamparinas de querosene nas fazendas, das serestas à meia luz, das missas na penumbra do convento. mas nem sempre é o melhor caminho a reinvenção do amor. nem sempre. transgredir a potência do desejo, invalidar a fórmula de báskhara, reduzir o sentimento a um segundo grau, tudo, tudo menos o vazio. apareço eu, então, no jardim da pele para extrair qualquer raiz dos números quadrados, sem curva ou gesto de rosto. apareço eu, lavrador das enseadas, deitado na escuridão, há dias atrás, antes de morrer no meio de um calendário morto.

Um comentário:

honey disse...

lindo.de babar.

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