21.7.05

notas fantásticas. sonho.




do atelier da noite saio vestido de ódio e de morte. entro sozinho em um pântano, sobre o esqueleto de um bote. respiro esse hálito sombrio, mentiroso, cleptomaníaco. me deito no fundo da mínima embarcação, me escondendo dessas farpas, que me lambem o rosto. oh, barqueiro, não se preocupe, não te paguei e não te pagarei, porque não pretendo atravessar este inferno outra vez. quero voltar para casa, para mim, onde não preciso pisar no caminho das armadilhas, nem me equilibrar de costas nas encostas de um abismo. quero voltar para onde sei que nasce o Amor. estou rodeado de algas, águas escuras, lodo. mas mesmo que eu perdesse os remos, afundaria minhas mãos nessa imundície ou me atiraria num nado instintivo se não soubesse nadar. preste atenção: essa é a sombra dos mortos, o escuro do meu peito assombrado por outros seios, que me devoram. é um sonho, você diz, mas sinto que me colocam gargantilhas de mentira no pescoço, garras que não me deixam respirar. suspiro, aperto o coração, me transformo num polvo, abro o sifão, engano todos e fujo. eu disse, avisei que iria escapar, meu bem, meu mal, estou livre, sei que vou voltar, para casa, em mim. eu faço retornos como quem chora e faz contornos pelo teu rosto.

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