27.8.05

correspondências, diz o que não digo.




my dear,

aqui nada é correspondência: um ir e vir igual e ao mesmo. perdi minhas chaves, identidades, estas cartas não abrem. eu não sou o que sou, mas posso dizer do que vou me fazendo: linguagem, amor. quantas cartas eu não te escrevo rasurando tantas verdades, lambendo os selos com tanta mentira. porque eu preciso ir me desviando, dissimulando esse real da vida, tão duro, tão preso, biografia que não me liberta. o que vou te escrevendo não sou eu, mas sou tudo aquilo que quer que eu seja. fico bonzinho, abano o rabo, meio cachorro, nos dois sentidos. me perdoe se digo essas verdades que logo rasuro. me perdoe se mando essas mentiras que eu lambo. mas o tempo é tão curto e tão longe, e estou tão doente, andando de descompasso entre o dia lindo lá fora e as janelas cerradas aqui de dentro. nem sei por onde terminar, nem sei por que começo. me arrisco a incompreensão do correspondente que nem me responde. hoje eu escrevo a vida como quem escreve o amor: essa nossa história ainda em rascunho. beijos & saudades.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas é tudo sempre em estado de rascunho, não?

Pesquisar o malote