3.9.05

correspondências. amor. séculos.





my dear,
eu finjo ter amantes em todas as capitais do mundo. recebo correspondências, cartões-postais de paisagens exóticas, presentes de todos os tipos. e por um momento me sinto bem abrindo tantos pacotes e envelopes imaginários. mas me dou conta que eu nem sei direito ficar na sala de casa, quietinho, querendo saber pra que lado da parede fica cairo, moscou, buenos aires, tóquio. mal sei de que lado o sol se põe. se eu pensar um pouco nisso, parece que uma onda de medo me enche, como se a gravidade fosse parar e me fizesse cair. o real da vida, sem imaginação: eu não sei estar no mundo. ou melhor: não saberia estar em qualquer lugar se não fosse pelo seu amor. esse que não existe em mapa algum, esse que não tem correspondente geográfico nem de correios. oh my dear, estou vivendo de experiências culturais, quando gostaria de viver experiências afetivas, pedaços de coração que me mortalizam. não me fazem viver para sempre, mas me provocam um sentimento intenso: viver tudo até o mais fundo antes que a vida acabe. e como não sei quanto tempo ainda tenho, nem quanto tempo você tem, eu arrisco profundidades, fico aqui, sozinho, mas louco de ciúmes, pensando onde estará andando agora, o que estará comendo, com quem conversou ou se babou no travesseiro durante a noite. do mais apurado ao mais prosaico: meus pensamentos são apenas teus. e mesmo não fazendo idéia de quando vamos nos encontrar de novo, eu sigo te amando, de modo incondicional. de novo sim, acho que você estranhou o que escrevi agora. mas eu digo isso porque tenho certeza de que já estivemos juntos muito antes do século XX, antes do ciberespaço, das webcams, da globalização. muito antes do brasil ou de qualquer lugar. esse nosso amor vem de longa data. quanto tempo temos? nem sei dizer. apenas posso dizer do quanto de amor temos um pelo outro e que se repete há tempos tempos e tempos. sinto sua falta, dear, mais do que nunca. te amo. retorna. te espero no lugar de sempre.

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