5.9.05

notas biográficas. vazamentos.



"o jato de sangue é poesia,/ não há nada que o detenha", escreveu sylvia plath num poema. fico pensando se o sangue também é rastro, prosa poética, assombro, medo. foi isso que senti quando do meu nariz vazou quase uma xícara de sangue. não, eu não estou doente. eu acho que estou morrendo. mas talvez eu esteja mal ou só um pouco fraco, banido de um mundo distante de saúde e felicidade. cena: minha cabeça latejando, o sangue no lavabo, em gotas grossas, respingos, fios. sozinho em casa, estou morrendo num dia frio e chuvoso, bem poético e metonímico, a chuva escorrendo na janela, o sangue escorrendo na cerâmica. "sinto que toda a minha vida, toda a minha dor e todo o meu trabalho foram para isto. todo o sangue derramado, as palavras escritas, as pessoas amadas foram um exercício de preparação para o amor", escreveu sylvia numa carta. e eu acho que estou derramando sangue por amor, fazendo isto parte de meu exercício do coração, de aprendizado, de filosofia. olho para o sangue tomado de pavor e de medo da morte. entro em pânico em pensar que o amor pode estar à beira da morte ou próximo de nunca acontecer. o medo da morte reflete meu medo de nunca viver com você. o mundo ficou apertado, rosto quase chorando, coração pulsando. estou pensando em você, uma flor, duas flores, uma delas murchando, orquídea sangrando. estou sentindo, acho que posso acreditar, segura minha mão, me leva aonde quiser. não me diz o caminho: me leva.

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