5.10.05

correspondências.febre.dores.



my dear

fiquei sem escrever, mas não pense que foi por falta de amor, o que você invariavelmente sempre acaba pensando de mim. não escrevo porque estou um tanto doente, sabe muito bem sobre o que digo. não há segredo entre nós. os últimos dias foram horríveis: o sono me atacou de um modo tão voraz, que eu me arrasto pelo dia todo, me agarrando nas portas, nas paredes, quase caindo pelo chão. tenho tonturas, medos e enxaquecas. e apesar de todo o sono, não tenho dormido direito. sempre uma tempestade interna, pesadelos, situações vibrantes. acordo com o corpo todo dolorido, quando não tenho as crises agudas de bruxismo, que me deixam com dores na boca e sem vontade de falar ou comer. não tenho saído de casa: nem vejo o sol nascer ou morrer, tudo o que sei é da luz que entra pelas janelas, quando eu não as fecho. e eu pensava que ficaria com uma pele de lagartixa ficando tanto tempo sem sair até a luz, afinal, não é assim com os góticos e darks? hoje tive vontade de ficar o dia inteiro de preto. mas por favor, não faça as leituras óbvias. nem diga nada. mesmo porque não sei o que diria se soubesse que até os olhos contornei de preto. os tacos do chão não estão mais foscos, estão brilhantes. quando estou a ponto de gritar, começo a limpar a casa, esfregando cada lugar escondido com muito esmero. assim fico sem pensar em nada. dear, acho que não vai demorar desta vez, creio que daqui a três ou quatro dias entro em órbita novamente. escrevo pra que saiba que estou bem e que penso em você.
beijos
saudades

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote