27.9.05

do diário de viagem. entre.lugar.



queria desistir, me sentia menor. corpo sem sopro, ausência sem graça. fechava os olhos e ia virando uma bola de fogo, caindo, queimando. o que mais me incomodava era aquele vazio cheio de silêncio. quem sabe o que mais me incomodava era o silêncio do meu próprio silêncio: um corredor tão longo e tão vazio, olhar de espelho, tão idiota. o que uma viagem não faz? me fez sentir uma solidão tão estrangeira quanto distante. me perguntava porque eu não fazia o retorno, descambava na praia, virava pescador. dizia a mim mesmo que de longe, o corpo da água e seus refluxos era o melhor a ser aceito. mais sereno que esse marejar da mente, água dura contra rocha, espaldar de cadeira contra colunas. a viagem nos altera por dentro, destrói pedaços de tempo, refaz tanto espaços, mas também vai nos matando por dentro em doses homeopáticas. e agora esse gosto de flores, hálito de álcool: perdi as amarras, me perturbo-flutuoso: tenho licença: quem sabe desistir e não voltar nunca mais.

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