my dear,
eu posso ficar muito tempo sem escrever, honey, mas sabe muito bem o que deve estar passando pela minha cabeça. eu sei que lê aquelas notas de jornais, os rabiscos de poema comprimidos no meio das notícias, manchetes sangrentas. sei que lê meus poemas-comprimidos, desses que ficam no armário da banheiro, atrás do espelho, reflexo que fica esperando seu rosto fazer o que deve fazer: aliviar a dor. escrever como terapia? não. não existe terapia na escrita. sem essa de expulsar demônios, fazer exorcismos. tem tanto escritor que ainda pula da janela, se essa fosse a saída. nem quero pensar. voltemos ao que eu dizia, os poemas. me telefonou dizendo que não os entendia, que não sabia o que eu queria dizer com eles ('se eu realmente queria dizer alguma coisa com eles', não foi isso que disse?). honey, depois de tanto tempo que me conhece ainda recorre a mim pra desvendar segredos literários, saber de fundos biográficos? não abro a boca, não te respondo. mas é claro que eu quero dizer alguma coisa. pra quem? isso não vem ao caso agora. mas bem posso dizer que quanto mais me deformo, quanto mais criptografo o que escrevo, muito mais perto estou de mim, ou daquilo que é feito meu corpo: linguagem. os espelhos refletem. eu refrato, baby. entendeu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário