17.3.06

correspondências > descartadas.


my dear,

fiquei tanto tempo sem escrever. há quase um mês não nos falamos. e talvez com um pouco mais de tempo do que isso eu nem fale comigo mesmo. não é por falta de tempo: eu tenho todo o tempo do mundo. só não sei mais deter-me sobre mim mesmo, me debruçar sobre rabiscos de correspondência. e além disso, dizem que o correio andou abrindo cartas, lendo-as todas, em voz alta. e disseram que os funcionários copiaram trechos, fizeram recortes e mandaram para tantas outras pessoas. imagino como deve ser horrível ver seus textos debaixo de tantos outros olhos que não, não deveriam estar ali. há certas correspondências-confidências que são um pacto de leitura apenas entre duas pessoas, um lugar onde tudo pode ser dito e do jeito que se pensa que pode ser dito. lei do confidente: você tem apenas um. é claro que o que se escreve também cede espaço para fantasias, metáforas em código, desconstruções. mas um e outro sabem muito bem como fazer as desleituras e enxugar o real do texto. e daí essas impropriedades: carteiros-terceiros nos violando, lendo impropriamente, nos desapropriando de um lugar reservado. honey, sabe muito bem que sou contra a publicação de cartas, mesmo dessas de poetas, acho uma violência. espero que a nossa não seja extraviada. desconfie do serviço dos correios. se puder, coloque um selo a mais, passe duas vezes a cola no lacre e ponha um envelope branco dentro de um pardo, só pra confundir. fico por aqui. beijos.

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