22.8.06

désolé letter.



my dear,

não há ninguém na fila do coração, e me sinto um colosso gigantesco por onde o vento uiva, uma estátua onde o tempo geme, um oráculo que a ninguém mais cura. posso também ser o pó, a majestade, um apalpar cego de mãos no corredor: eu poderia ser a morte. ah, dear, fora daqui está a floresta de símbolos e sua solidão. acho que a peguei: uma árvore, uma casa, uma flor. de que cor? nem me importo, mas sei que pode ser incolor. vai, por favor, me fala da tua vida: eu te decifro e ainda te devoro se for preciso. agora que tenho poder mágico, faço reviravoltas. só não me venha com essa arbitrariedade de sons: 'casa comigo? me quero contigo'. é muito convencional, não aceito porque não é legítimo. olha bem para o inteligível da vida aplicado às pequenas estruturas: meu amor é protéico: eu faço outro e outro e outro. emerson disse que "quando um semideus vai embora, um deus aparece no lugar" . neste lugar só vislumbro deuses desaparecendo na areia da praia. e meu desejo só me lembra de todos os deuses que eu não sou. que arrepio agora: sinto um espiritismo: uma centena de almas me faz escrever em uma dezena de vozes, vozes vorazes que me devoram. eu sou tantos e ainda não sou aquele que vira niké alada, carruagem de prata, rastro de glória. sou apenas estes: violento vento do amor, infinita solidão de quem ama & doce canção de espera.

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