12.9.06

carta campograndense II



my dear,

faço de tudo para me desacreditar, baby, mas ainda assim vejo teus bilhetes sem nome me acreditando. acaso não notou ainda a assinatura diversa das cartas? há coisas minhas misturadas a outras coisas, não tão genéricas, mas genuínas, femininas, coisas de cami. e nem sei quem sou eu nem quem você é, embora eu saiba de cor onde estou eu nisto que escrevo. as cartas, de fato, podem ser mentirosas de tanto esforço - a língua cansada de um cachorro coxo - mas, ainda assim, são verdadeiras. não me pergunte se eu gozo ou se eu gosto. eu apenas escrevo. e, sim, tem horas que me sinto sozinho nessas linhas, tão cruas e a contratempo, vindas de um rosto que eu invento, inverto. vai ver tem vezes que você me olha e não me sabe. estas cartas são meu disfarce imposto por consentimento mesmo. no entanto, vez ou outra, elas próprias me confundem no artifício. e quando acontece é quando penso que o ofício me faz tão mal e a contragosto. vê? nem eu mesmo me reconheço. a ficção é isso. a ficção é uma aflição do pensamento. às vezes é dolorido aplicar colorido ao preto e branco, à escala cinza. portanto não fique me julgando pelo que escrevo. nem sempre o pessoal destes textos é o que sinto como o meu pessoal, embora a experiência literária tenha origem, em grande parte, da experiência pessoal que atravessa um coração. (aqui existe a verdade). e eu escrevo como quem fala macio e compreensivo no teu ouvido. me compreenda, por favor. eu sou visceral com ascendente em touro. maior signo de amor do que este talvez não haja. eu me apaixono fácil, longo, longe, platônico e intenso. e se agora eu escrevo como quem disfarça no que me faço quando me apaixono é porque há pouco espaço para poemas derramados e cartas de maçã de amor. o que há de mais trágico no mundo não é a cegueira do tempo, a fome aguda, a guerra continental ou a morte dos filhos: o trágico é a falta de amor. o amor é entrega e recompensa. o amor é uma renúncia. e por amor, quando vejo as costas, as crostas dos cortes, as feridas e as cracas na polpa do peito, é que renuncio e esqueço tantos outros amores lentos. porque tantas vezes ao relento eu os nomeei e não me esqueci de esquecer que se esqueceram de mim na velocidade do pensamento, na hora de sumir. então me desfaço em vários nomes e me disfarço nessas linhas. porque acredito que as costuras de amor só podem ser mistério e império de interpretação. também conquista e soslaio. também surpresa, desmaio e recordação. eu sinto muito por tantos amores mudos dos quais nunca te falei. o amor, quando não pode ser escrito, pode tão somente ser vivido. e se eu menti, é porque, quase sempre, a mentira é uma cápsula protetora do de dentro.
beijos
p.s. o amor acima de tudo. o amor é rei. o amor é lei. ne me quitte pas.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu te imitei dançando esses dias. aqui faz frio. e florianópolis está com um calor terrível. te escrevo tomando um vinho de reserva seca, assim como eu.
sinto tua falta em cada copo de café, ou malboro vermelho.

descobri que te amo. não apenas como os amantes.

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