30.10.06

correspondência cristã


my dear,

são sebastião das flechas no meu dorso, no meu ombro, no meu tronco. mira tu reflejo en mi cuerpo. estou de joelhos na tua sombra de desejo. as flechas são meu reflexo dolorido mirándote. te aprecio de longe, com teu corpo guido reni, barroco. e tenho remorso. um olhar é um retorno na história. memória emotiva que tenho de ti: fragmentos de matéria viva, brutal e aflita, violenta como um soco na boca do estômago. uma boca sem dentes, mas cheia de carinho e, agora, em silêncio. a nudez é a de um ídolo, de uma estátua, de uma pintura que me olha de fora para dentro, como talvez deva ser o amor. e é por isso que acompanho teus olhos distantes, perdidos no sonho de alguém que embrulha imagens de são sebastião, em papel pardo, e as envia por reembolso postal. amor, eu menti tão logo o hálito noturno pousou nos meus lábios. então genuflexo, de joelhos comportados, eu me/te aconselho, e me/te confesso: são sebastião em sonho é um martírio de amor. amarrado, flechado, tanto quanto me sinto machucado por teu modo de amar, tão sangrento e amordaçado. na tela não vejo o sangue, o santo não sofre. mírate en mí. acho que ele gosta e goza: fetiche amoroso. eu não, não quero. se não vê o quanto sangro é por puro descaso que detesto. em primeira voz, gregoriana, te digo: os sinos dobram, as flechas quebram, o encanto quebra se não me quer tanto quanto eu te quero. são. e sebastião. (como na oração de um bêbado embebido de graça e louvor pelo coração)

Um comentário:

Anônimo disse...

não sou nenhum protagonista da prosa, não brinco com palavras, apenas entendo, ou tento te entender, e sinto... e gosto, muito.
beijo.

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