23.10.06

travel letter.


honey,

estou ficando perito em fazer e desmanchar as malas no mesmo dia. uma preparação para que nunca. nem me recordo mais quando é que fiz alguma. as viagens sempre ficam pendentes. em última hora tudo fica overbooked, canceled. e fico lá, com o olhar parado e as coisas na mão. o retorno sempre parece a razão única. mas antes de abrir as correias e zíperes, me deito no chão da sala. e choro. poucas vezes, na verdade. nem sempre a água escapa, e fico tão somente na vontade lacrimosa. o silêncio me encalacra então num gosto azedo e murcho. enquanto o vazio vai se expandindo pelo recinto, paredes, piso, móveis. o vazio me enche os poros enquanto esvazio as malas. não importa, baby, nas cidades do interior e nas capitais a solidão é sempre a mesma. e se não é perigo dos vôos, é o perigo dos portos. um cais é um ataúde de memórias, frescas como peixes, mortas como os frutos do mar de que não gosto. eu fiz as malas de novo e fiquei parado. acho que perdi o horário, cheguei atrasado. quando não chego cedo demais e a viagem não existe. três dias, três noites (ainda parado). o lamento é uma sombra soprando no vento e nas cartas que envio de assobio e fuga para você. (estou arrependido de te dizer a verdade e ficar sempre culpando o eu lírico)

Um comentário:

Anônimo disse...

El Possuidon diz:
nunca ninguém vai se sentir preparado. a vida é contínua, um processo que nunca termina.
El Possuidon diz:
nem depois da morte.
Dann... tired; diz:
i hope so


"Hope there's someone/ Who'll take care of me/ When I die, will I go?"

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