my dear,
estou me despindo da palavra, mas não nesse instante. me demoro agora diante do espelho. não me vejo mais no que reflito. definho. me aconchego nesse estrangeiro. a superfície é lisa e prateada como um exílio. não sou eu, não sou. estou pronto para uma jornada de faces e reflexos, embora não seja fiel ao retrato, sou leal ao teu corpo, coração. mil vezes você me colando, me dizendo baixo e quase sem voz aquele mantra bonito de quem se ama. mil vezes, também, eu me debruçando nesses cacos de sonho, que eu colo, te dou voz e te faço amar comigo. é tão triste este país estrangeiro, esse espelho desdobrado do meu lado. toda vez que o toco, não te vejo, também não me vejo: é apenas uma imagem dentro de uma imagem, um desejo dentro de um desejo. eu me perdi por aí, sabe lá onde você me deixou. entreguei-te todo o de dentro, mas recusou, em silêncio, e me abandonou em algum vento. não pude me pegar de volta. por isso, amor, é que sou um vampiro diante do espelho. je ne suis pas moi. je ne suis pas ici. o francês me arranha a garganta, quedo rouco e louco por um roubo de beijos. cleptomania, sim, mas eu te furto e nem se importa. o que não me acalma, é que não se importa. então sigo me despindo das palavras. coloco-as em desuso. não me servem para te alcançar e arranhar sua pele. nem palavra nem atitute. tudo que digo ou faço, repele, esnoba, desfaz. então, em resposta, coloco os espelhos, lado a lado, para reproduzir no infinito a única mensagem que me diz bem clara e ao pé do ouvido: o vazio. (je t'aime, moi non plus)
Um comentário:
Tive impressão de um alguém meio perdido, estou certo bunny?
Amo!
Beijos!
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