16.11.06

carta atlântica


honey,

quando acordei na cama, ao fim do dia, com o corpo ainda em febre de litoral, fiquei pensando em te dar beijos com gosto de sol, de sal, de mar. porque de manhã havia levado meu coração à praia para enchê-lo de bronze, de cores douradas, dessas que ficam na pele em breve estação. sentado na areia desenrolei meus pensamentos todos, porque assim te levava comigo, seja onde for, seja onde quer que eu pise. nem te conto, mas o céu estava dolorido de tanto azul. tenho certeza de que ia adorar. depois fui até onde os dois azuis se tocam, mergulhei o corpo no mar revolto, e meus olhos de lá vieram feito dois sóis poentes, se pondo de saudades no horizonte. como acontece no cinema. sabia que os dias se põe cheios de saudade dos raios de sol? por isso são vermelhos e um pouco tristes (me deu até vontade de chorar). quando voltei, a areia grudava nas pernas e nos pêlos das pernas molhadas. é assim que a gente guarda um pouco da praia quando chega em casa. a areia se cansa um pouco do mar e vem com a gente, só para mudar de lugar. também queria mudar as coisas. me canso um pouco daqui e queria grudar em você para estar em outro lugar. fora do lugar. enquanto penso nessas pequenas coisas, casais se beijam nas ondas do mar, na areia da praia, por trás dos guarda-sóis. corei de ciúmes. daí fiquei olhando o quebrar das águas, tentando adivinhar se na espuma salgada haveria um pouco das tuas lágrimas, da tua falta que me faz falta. me demorei olhando, mas percebi que os rochedos lá longe não tinham sirenas, apenas limo e cracas. cracas engolindo o mar e o cuspindo de volta. por dentro meu coração também te engolia e te cuspia de volta feito incessante maré brava. os faróis de cima das rochas sumiram e se perderam no oceano. eram meus barcos que sinalizavam a tua chegada. engolindo e cuspindo, meu coração se enchia de água. meu coração era uma água-viva, queimando o resto do meu corpo, um farol desaparecido no teu oceano de amor. um farol que deseja estar perdido. para sempre. nisso que é um amar revolto.

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