14.11.06

carta em prosa-poema


honey,

estou rodeado de livros de francês. desses que ensinam passo a passo como se comunicar diretamente com a torre eiffel. mas não estou interessado em franceses, nem em cafés na champs- elysées, nem em nada que me lembre o arco do triunfo. o ar desta sala está aos pedaços cheirando a cerveja britânica. e a língua bárbara dos ingleses fica raspando nas quinas da cama, nas arestas da mesa com uma violência irlandesa. riverrun, riverrun. e uma exigência, uma exigência dolorida dos livros que me olham imperativos das estantes e das escrivaninhas. eles me pedem um pouso de olhos, uma leitura de estábulos, como se houvessem cavalos a serem acompanhados em cada linha e contorno. mas estou um leitor sem rédeas. e acho que é por conta de todo ouro e prata que vêm destas minas. meu francês é para este lugar, meu francês é para este país. je t'aime et je t'adore, ton amour m'est plus précieux que l'or. e assim sendo, não há como não me derreter de joelhos, vendo tuas fotos-postais, e te amando mais do que deus o faria. riverrun, as palavras me incomodam, mas não os poemas e os lindos versos de amor. logo virá dezembro, talvez janeiro. e espero cuidadoso o teu sorriso e a tua cara de sono. mas de agora para diante: love, love, my season. porque você é my reason, my treasure, my golden heart beating. então nada mais importa, exceto esse cheiro de mel, neste coração de colméia que te quer como abelha rainha. a única exigência a que me rendo: que o amor seja longo, na frança, aqui, ou em qualquer lugar que seja, desde que me deseje até que o pranto seja a única lembrança do meu corpo sobre o teu. (por isso não me importo nem com arco do triunfo, nem com champs-elysées, nem com torre eiffel, nem com nada. rien)

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu gosto muito de "o beijo", do Klimt, que é tão lindo quanto este poema. Todo ligado a ele por formas e pigmentos que se imagina nesta leitura. Que lindo quadro daria essa carta em prosa-poema.

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