25.11.06

correspondência twist light.


my dear,

desculpei se desandei a escrever complexo estranho completo. sei que não me responde por ficar sem entender nada. de qualquer forma as cartinhas estão aí. quero apenas que as guarde, sem compreensão mesmo. quem sabe um dia o entendimento não se realiza num cisco de olho, num olho de furacão, desses que seguem soprando o imperdoável da íris. e não venha me dizer que estão ilegíveis, não mesmo, porque voltei a escrever bonito redondo, com caligrafia de diploma e prêmios dourados. quer saber mesmo a verdade de tudo? estou sem motivação para qualquer algo que precise de mim. não quero ser precisado, quero precisar do mundo mais suave (lembra poema que colei atrás da porta: pé detrás de pé/ não há outro modo de caminhar/ nos dormentes de trilhos,/ nos ladrilhos de brilho/ nos vidros que quebrei/ como andarilho exílio do mar que deixei). tenho ensaios por escrever que ficam na coxia me exigindo mais do que nunca. insistem de cara franzida que devo abrir a cortina. não sabe você o quanto é insuportável as coisas pondo os olhos furiosos no que não se faz. meus livros, então, nem se fale. são pura raiva de mim. embora eu os perdoe: são meus filhos. não compreendem ainda que não é falta de amor cândido e demorado. apesar do peso que têm, ficam se comportando assim de um modo tão adolescente e revoltado. por isso os fecho três vezes por no armárido, de castigo, para que não me aborreçam com suas exigências descabidas (cada coisa a seu tempo). de manhã, todas as manhã, tomam ar e um pouco de luz, enquanto tomo café com leite e sucrilhos. logo na primeira cara feia, os castigo. (me pergunto se dou a devida educação a eles ou se estou sendo rígido demais). tirando as exigências do mundo, é essa brancura que me assusta. quase todas as horas do dia me mantenho em silêncio, dentro de casa. com alguma freqüência ganho as ruas em horários depois das seis da tarde, para um pão na padaria ou algo do mercado em frente. sinto remorsos de vampiro por não ter o sol bonito no meu corpo. e se eu virar pó tão logo eu me demore mais? tenho medo de me acostumar e ser mau exemplo. os gatos estão bem. todos pardos assim como as horas da noite na qual te escrevo. o futuro é tão cheio de ilusões, não é? acho que acabei com as minhas. a realidade fica me bolinando com muita malícia, fico até constrangido. no mais tudo é cinema. depois da sessão fico tatuando os frames no meu corpo e enlouquecendo por horas. não sei desgrudar do universo paralelo. entra em mim com violência brutal. preciso fechar as janelas e recolher as roupas. outra frente fria de vento de costas vem chegando. fica um beijo em você e nas crianças.

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