26.11.06

correspondência de visita.


dear,

chegaram visitas em casa. não são minhas, nem me preocupo. antes eu tinha mais diplomacia. saía do quarto, dobrava sorrisos no rosto e afagos no corpo. e ficava fazendo sala até saírem. ultimamente nem me importo. posso até passar por arrogante, mas por aqui se pegam muito de egoístas e não concordo. então, para evitar brigas, me fecho. sem lacre. porque arrependimentos não gostam de dar a volta em chaves. preguiçosos e tudo o mais. demorados inclusive. no mais, eu fiz domingo produtivo. organizei a casa desde o centro, o meu quarto, até as fronteiras, onde fica a cozinha. ao fim de tudo tive uma sensação fina de gratidão. tive vontade de retribuir a deus e coloquei minha orquídea na janela. uma garoa fina respinga nas suas folhas. uma orquídea na garoa é um diálogo com deus. também deitei na cama e li horrores de cartas. ana cristina me delicia. diz verdades e coisas cruas que me refletem por todo (abrindo parênteses, te dou uma lasca de pérola: 'os espelhos mentem, mas podemos fazê-los dizer a verdade'. frase tirada diretamente de uma novela mexicana. achei poético. novelas mexicanas às vezes se dão ao luxo). pior que na cama fiquei pensando outras coisas. 1. que eu estou cansado de não ter jogo de cama adequado. um travesseiro de penas de ganso, outro de algodão e sintético. as fronhas, cada uma com sua cor, sem combinar. e por sua vez, o lençol que não combina com o sobrelençol nem com o edredon. fico até com vergonha. tenho rezado para as coisas melhorarem. 2. os livros hoje estão mais calmos. dei um pouco de satisfação a eles. portas abertas do armário, todos ficaram me vendo folhear um dos irmãozinhos. cena bonita. parece tirada de um filme-biografia de poeta famoso. mas nem sou famoso. nem poeta. 2 1/2 ando tomando muito leite antes de dormir. tenho medo de ficar com bigodes de gato. já fico com bigodes de leite. virei um gato. só não bebo em pires. 3. enquanto as visitas não param de conversar, eu não consigo mais ler, então te escrevo. não dá para ler com um monte de gente falando. sempre se estica o ouvido para o que dizem. impossível evitar. escrever é outra coisa. dá para contar e ouvir. e de quebra incorporar algo engraçado que se ouviu. bem, vou ficando por aqui. recebi blocos bonitos para desenho. vou arriscar fazer algum. se conseguir, eu te mando. saudade.

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