18.1.07

entre o sem rota e o profundo


honey,

que o acaso não me ouça, mas leva ele a algum lugar? pelo caminho dele, apenas de punhado em punhado vem a felicidade. e de uma hora pra outra, sem tempo de trepidação. quando acontece, lá está você, atônito, imperfeito, com cara de maravilha do mundo antigo. o acaso é algo que mexe por dentro - com os desejos de conquista, de amor. acaso pode se confundir com destino, às vezes. foi por essa confusão que veio você, sem pedido, passaporte, visto internacional, muito embora com data certa de retirada. quando te escrevo, agora, é tempo presente. e os destroços dos ponteiros seguem boiando no futuro, num modo dramático slow motion. mas sem drama. puro amor crepitando em achas de olhos, em fogo azul sangue, em coração de vento soprando. pois havia tanto tempo assim, eu, perdido num caminho aqui que nem sei. com você fui me perdendo tão fundo só pra me achar por dentro. me pegar de novo no espelho, mais vivo e cheio de cor. e como tudo tem seu preço, fui obrigado a te perder para me encontrar. e como que eu faço para deslocar a falta que me faz por agora e até não sei quando se me encontrando, te soube por dentro e te entreguei por fora o que ainda havia de sedento em mim? não sei se consigo enxergar sem ser de regresso. olho pra frente, pro lado, pela janela, só enxergo o passado: tua mão escorregando pela minha debaixo da água, tua boca me dando água na boca de tanto beijar, minha mão segurando na tua suspenso no ar. o acaso foi a causa de tanta euforia? foi felicidade sim, não aquela do tipo clandestina, foi cleptomaníaca, me afanando sem eu ver sem querer por impulso me levando te levando sem querer querendo guardar todo inteiro tesouro do teu corpo no meu corpo que é teu também. foi o destino te escrevendo um contorno, uma chegada, um plano, depois um encontro, algo fora dos planos, um retorno doloroso pra quando puder? me passam os frames da tua voz, do teu corpo colado de areia, da tua ramela amarela de manhã, da tua reza cortada pelos meus desejos. se foi por acaso, obrigado você, amor. se foi por destino, obrigado meu deus maravilhoso e invisível. só não agradeço o teu adeus o teu eu te amo molhado e gemido no ouvido, só não agradeço a saudade que me adoece de um tanto que nem sei como, só não agradeço o trânsito e a distância que me amolece nos cantos aos prantos querendo não acreditar. só sei que fecho os olhos, primeiro close up, teu rosto bonito me deixando sem graça sem jeito sem fala. nem digo nada, e te reinvento de beijos estalados. e vai saber de quem é a culpa. na verdade que me importa a culpa. mais valor se faz no que me desfez. o teu amor tão lindo, tão terno, me fazendo jurar de eterno e de joelhos juntos. lá vem outro frame - você de costas, partindo. congelo a imagem, não preciso ir até o fim. sei que no fim você vai voltar. o tempo pode estar parado na retina, mas meu coração não pára de bater pelo teu. nem agora nem nunca. nem no acaso mais sem rota, nem no destino mais profundo. (e seguem os destroços pelo rio de um colosso de pedra que eu era antes. porque tudo mudou. nada será como se foi até a hora-tempo em que seu barco-corpo atracou em mim).

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