23.1.07

nova correspondência


honey,

vamos começar outra correspondência, com outro tom, papel de seda, selos além da conta? só me diz primeiro: algo já te tocou tão fundo a ponto de mudar por tudo o teu mundo desde lá debaixo até o lugar mais longe? (porque você me tocou assim). me responda assim que puder. foi da página 38 que tirei os versos que te declamei, tão incompletos, e por isso reinventados no final, dando um laço apertado e vermelho com minha língua morna de beijos. me diz outra coisa também? devo deixar a saudade em repouso ou apenas de contorno em lápis hb? (ai deus, me afunda as saudades!) nunca mais te digo palavra sem ser de ouro, porque é no teu ancoradouro de sonho que o valor se fez. desfaz a saudade, please, como quem quem desata um nó apertado de garganta e enche o gargalo de bliss? me sinto dormente e partido. o dia acordou nublado depois da noite fresca da chuva de corpo que desaguou ontem. sinto hoje como o dia mais longo do ano. não por causa dos dias de verão, mas por ser meu primeiro de outono de você (nem quero pensar no inverno, nas folhas já caídas, nas sombras de gelo. quero a primavera dos teus lírios alisando meu rosto ao gosto das caras da lua). de tarde li por duas vezes a teus pés, o que me deixou com um pouco de tontura porque odeio ler na cama e sentir tanta poesia me roçando. depois tive vontade de estar aos teus pés em outra página de poema-em-vida desses que escrevemos na areia da praia. então soube que um transatlântico atracou no litoral. não te vi a bordo nem em terra, e ainda assim fiquei dando acenos cheios de nostalgias para o mar azul, para o ausente dos teus lábios carnudos e pra o último amanhecer que vimos juntos. lá pelas seis tive vontade de te amar, de te contar todos os segredos de mágico, toda história secreta de amores - rumores de cores e privilégios compridos. (minto: tive vontade de amar você o dia todo) não se engane: noite adentro lavrei a terra dos sonhos, como agricultor faminto, querendo e te querendo fazer brotar de novo nos meus campos. um campo novo e bom. florido. primavera que me queiras. por isso, meu pequeno grande amor, deixa eu pegar a flor silvestre da mais alta montanha, deixa eu fazer mel de estrelas carentes, cadentes de tão adocicadas. deixa eu te dizer de outro modo e mais charmoso que eu amo você. com gosto de néctar e cor de abelha-leoa.

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