12.2.07

mnemosyne envio postal.


honey,

como é tristonho sentir que não há substituto para o passado. as memórias que carrego comigo são apenas uma consciência de falta. são a ausência e a presença fantasma de um tempo, ranhuras no cimento, rasuras no papel de carta. saiba que as memórias despertam no silêncio, por isso não consigo parar de falar enquanto escrevo. não quero que acordem. não leia esta carta sem voz, não quero que lembre de mim. a memória acorda o silêncio-pensamento, o silêncio-lágrima, o silêncio-no-silêncio misericórdia. quero que me esqueça para que me conheça de novo. (não quero ser um prisioneiro na tranquilidade dos sons). experimente. fale bem baixo, aos sussurros, até a voz sumir por completo. vai ver que apareço de leve no canto dos teus olhos: estou no teu quarto, no teu carro, na tua sala de jantar. estou mas não estou eu, amor. meu corpo-nau avança no oceano atlântico, enquanto você vai pelo interior do país, a pé. não pense que digo para que me esqueça porque já te esqueço também. presta atenção, olha pra mim, não chora. aprendi que a memória repousa nos dias que ficaram para trás, nas conversas mortas das horas mortas, nas pétalas secas de um flor, naquilo que está acabado e sem volta. (a memória que se recorda é como o reflexo flutuante de uma imagem e o eco de uma voz sem corda). o que quero dizer com tudo isso? quero dizer, amor, que a história de nós dois é o início do futuro. começo de um tempo em que vamos aprender a não viver no silêncio, onde tua voz e minha voz não vão precisar espantar as memórias e os fantasmas. sabe por quê? porque teremos o rosto colado um no outro, sem perigo de esquecimento. no entanto, neste tempo eu vou querer esquecer que te amo, tão somente para todos os dias, ao acordar ao teu lado, lembrar o quanto te quero e o quanto te adoro no meu peito de carne e osso. e o silêncio que houve só vai ser aquele dos corpos esgotados na felicidade depois do gozo, na morte mínima do tempo. nada te substitui. eu quero para sempre a presença do teu presente no meu dorso. que morram as memórias. quero a amnésia dos meus beijos roçando nos lóbulos de tua orelha. vermelha de paixão.

3 comentários:

Alberto Pereira Jr. disse...

se um dia eu recebesse uma carta dessas estaria arrebatado para sempre.

"aprendi que a memória repousa nos dias que ficaram para trás..." - realmente doce

B. disse...

Exatamente o que eu fiquei pensando hoje por horas. Esquecer e conhecer novamente. Às vezes penso se seria melhor assim, agora. Enfim, suposições.

Minhas férias me deixaram com saudades de te ler. Errei. Não de te ler, ler incorrespondencias.

Beijos.

Anônimo disse...

acho que todo mundo ja sentiu esse incorrespondencia!


:)

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