25.3.07

carta numa garrafa.


dear,

quando eu te escrevo, finjo que te escrevo porque esta carta está aberta aos olhos de quem quiser. aos teus, inclusive. às vezes tenho vontade de colocar os destinatários corretos, com nome e endereço, código postal, beijos e abraços. só não o faço pelo medo de que me faça sentir medo. então o que eu escrevo é uma carta atirada ao mar em uma garrafa verde de champanhe boa. quem sabe você a encontre. uma chance em um milhão de ondas. muito provável que outros a vejam. como sei que rareiam as chances de pousar os olhos no meu correio, te digo as verdades mais cruas. sei que apenas você saberá do que digo. e se um dia me pegar nas laudas, cairá numa armadilha, pois haverá dúvida se a ti endereço as cartas. porque as verdades que eu disser estarão misturadas à literatura que prepararei no fogo meia hora antes. não saberá você separar o cru do cozido. e a mensagem estará perdida ou arriscada de revelação. talvez fosse mais fácil que a lesse em braile do que com teus olhos cegos para a sensibilidade. quando eu te escrevo, apenas finjo que não sou mais eu, porque continuo sendo-me todo em tudo que digo. quanto mais fingido, mais biográfico eu me obrigo a te revelar meus domínios. e só me responda se for criptografado no enigma das algas. os mistérios só entendem os mistérios. sem medo.

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