19.6.07

epístola do segredo cego.


honey,

você me pergunta por que eu insisto em dividir meus segredos? porque o segredo não é apenas para um, mas para uns poucos. quase uma iniciação num universo tão secreto quanto a maçonaria. tão secreto e ao mesmo tempo tão sem significado. seria o olho que tudo vê uma romã com olhos e pilares? ou os fantasmas ancestrais dos pedreiros livres que se fecharam nos tijolos de uma loja sem janelas? é tão difícil respirar, meu amor. não consigo nem olhar para fora. apenas para dentro. e aqui, não sei dizer: umas trevas, uns segredos e um juramento que nem tem porquê. eu nasci sem saber pousar os olhos nas coisas. e me dizem que a vida é o escuro de uma noite inteira. de fogueiras, de cerimônias, de vaidades enviesadas. não sei o que são as trevas. nem sei o que é a luz. ouvi dizer que só se conhece algo pelo que ele não é. eu não tenho como comparar. não posso compreender o que me é invisível. o mesmo vale para o mundo dos sonhos. como eu poderia sonhar se eu não tenho conhecimento prévio das coisas? apenas reproduzo uma fantasia de vozes e impressões, um sono num quarto vigiado de tão fechado. e as espadas e os esquadros e os compassos? é tudo tão escuro. se houvessem imagens, seriam de um outro tempo, os farrapos de uma alma antiga. posso te dizer um segredo? eu estou preso a uma fraternidade tão mesquinha quanto injusta: a ordem dos sensíveis no muro das carnes. a ordem dos filhos devorados pelos aventais de saturno. (devolve-me agora a minha promessa de calar muito antes de ver o que se faz com as palavras).

Um comentário:

Alberto Pereira Jr. disse...

sempre lindas palavras..

e concordo, secgredo não é segredo se não for compartilhado
^^

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