18.9.07

berlim


dear,

1989. em berlim o muro está caindo. alemães gritam por todos os lados. barricadas, marretas, tijolos. the fall of the wall. nas minhas imagens pop, eu ouço another brick in the wall com o mundo caindo lá fora. brick. tic. brick. tac: é o fim.

é o fim do mundo dividido, dos corações partidos nas cercas elétricas, dos filhos refugiados em varsóvia, praga, áustria, hungria. um húngaro me disse que é o fim dos acontecimentos, que não há mais utopia, nem há mais pão. nem circo. que de agora em diante só vão permanecer as estruturas de metal, as arenas, as armações. um vazio, e, também, uma fome voraz. por isso, quase em pânico, diz que o espetáculo já tomou as ruas e dentro em breve estaremos no último ato. (chego a ver de longe as cortinas, bandeiras trêmulas, são joão, passeatas, fogos de artifício. depois o fim da festa, a derrota, os convidados todos de volta para nunca mais).

acabou-se.
os jornais comunicam o fim. o tempo é real, live transmition. o que ninguém sabe é que as tvs transmitem a morte do tempo. ninguém sabe que os próprios repórteres já são uns cadáveres. por isso dói meu coração tão arrependido. a história, dear, acabou de morrer e eu vejo tudo pela televisão.

nada de progresso, de linhas retas, de evolução. você vai ver agora o que é o furioso retorno, a volta do parafuso, o reverso do pêndulo. daqui para frente, só deus, só deus sabe. vai ver que daqui a dez anos o tempo será um caos, o homem será um caco, o espaço, uma última gota de orvalho...

queria tanto pular o muro, mas eu nem te conheço, dear. talvez nunca mais venha a te conhecer. e ainda assim te falo do tempo, te falo do estrago, tragando um cigarro. eu só consigo falar do tempo agora que estou fora dele, agora que sou pré-histórico, um dinossauro, um antes do big bang.

3 comentários:

Anônimo disse...

Dear, deixe a cosmologia de lado por um instante.
Creio que não consegue ver realmente a TV que te vê. Digo assim, pois somos observados, todos os momentos e movimentos devidamente pesquisados e registrados, coisa que nem Eric Arthur Blair e seu 1984 se deu conta, praticamente uma alucinação de realidade. Já os jornalistas e o jornalismo, defendem interesses privados e privativos, cuidando de empresas, marcas e empresários que tomados pelo desespero que assombra seus negócios busca na impressa a vacina para cura do seu problema e acaba por criar muitos outros probleminhas marginais de menor relevância, para não dizer nenhum.
Dear, não tente pular o muro, pois as coisas do outro lado podem não agradar ou corresponder as suas incorrespondências o que pode se tornar LETAL.

Alberto Pereira Jr. disse...

se todos formos um dia tragados pelo tempo, que pelo menos o homem retorne a primeva, quando sabia amar o outro...



deliciosamente atordoante os seus escritos

honey disse...

aplausos [de pé, de joelhos, de reis e rainhas, da plebe, da urbe...] da sua honey.
magnífico!

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