12.10.07


dear,

não preciso que me procure em nenhuma cadeia sórdida da américa central. meu desaparecimento é voluntário, mas o crime, impossível. queria que entendesse que eu preciso partir. a espera é como o corredor interminável de um mundo destruído. às vezes é como as cidades sitiadas de um estado totalitário onde há ordem, obediência e contragosto. com tanto fascismo não sei mais qual a razão de minha existência. sinto-me tão preso aos caminhos de um destino ignorado e morto. há quem tenha se perdido por dentro, vagando insone pelos corredores vazios. outros se perderam por fora, dando voltas pelas amuradas. quase me sinto foradentro, insideout, perdido numa língua estrangeira, num país sem sol. faz dias que um par de leões alados, cor de ouro, garras de prata, me trouxe para cá. rugem o tempo todo e me lambem com gosto de mel. não há sangue, nem fome, apenas as feridas de uma vida pregressa. nestas planícies que não sei onde, nestas savanas de alguma áfrica inventada, me pergunto: mesmo que eu possa viver para sempre, de que serve o amor se não posso? por isso a mentira faz tanto sentido e a pequenez do mundo me engrandece. eu já fui nobre e bem menos sábio. agora sou pobre e compreendo a mais seca das sedes. de um lado há a ruína; de outro, a construção imperial. mas por que é que eu tenho de ser o responsável pela tempestade? uma voz cheia de afetos me machuca, porém, é ferido que me sinto mais vivo. consegue ver os meus olhos? estou sendo sincero e não quero mais. meu corpo se alonga na nostalgia e no vento. o sol se entristece em sua casa celeste, chora e morre de eclipse. eu tenho tanto medo de que a luz se apague. não temos chance, estamos distantes e sem lugar. como o quadro parado de um filme, como o beijo cortado de uma cena. o que fazer quando o amor é uma palavra de ordem que é preciso desobedecer? fugir. fugir para um lugar sem leões ou feras, sem grades ou janelas. um lugar onde o futuro não seja uma promessa e onde passado não seja uma cova de dois tigres sem dono. não me encontre em lugar algum, porque eu só preciso ser um pedaço de corpo, sozinho e irresponsável no mundo.

Um comentário:

Txiago disse...

As vezes eu sinto com se não entedesse, as vezes eu sinto como se fosse meu, por isso retorno...
sempre lindos os textos.

bjão

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