15.1.08

dias santos.


"só o que está perdido é nosso para sempre"

mario quintana



dear:

faz dias que tu partiste sem palavra alguma. também foste sem que eu fosse te ver. é mais suportável o mundo apoiado nas costas que ver tuas costas voltadas para mim. de partida de mim e das costas de santa catarina. antes soasse católico demais, mas o gosto encosta nas coincidências profanas: signos, rastros, os sinais de um destino banhado de ouro retinto ou de bronze azinhavre e verdigris. vieste com o corpo colado às nuvens mais altas, engastado nas patas do leão faminto, tão leve quanto o rosto de uma lótus fresca - um dragão da providência.
depois que a torre do campanário foi fechada estou me sentindo feito de sopro e vento forte. e com o desejo imenso de ir para lá do continente, remando até o último pôr-do-sol e mais para além da vista. encontro as palavras do poeta que diz que é preciso amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal. escrevo assim mesmo, subvertendo o verso, vertendo para fora a indecisão de linha e horizonte. eu amo o que o mar atrai para a praia. só não amo a traição de sua sepultura. o tempo, o resto dos dias singrando sem tu. eu prometo que te procuro pelo mundo, tu me prometes igual favor. se for preciso, te perco por pouco para tornar verdade que é para sempre tudo o que está perdido. mas faço o acordo fáustico de perder para descobrir-te de novo. e de novo conhecer o objeto de amor que tenho em meu peito. a trindade agora vai saindo das águas, levantando as capas e as linhas de deus, tão tortas e tão esgarçadas que nem dá para dizer aos anjos meus que é milagre. e ainda assim a maravilha acontece no livro dos dias e nas iluminuras do pai nosso. rezo para todos os cantos a fim de um encontro-devir: santo anjo do senhor, meu zeloso guardador, se a ti foram confiadas as armas de santa catarina, valha-me com suas espadas, ajude-me a vencer a batalha da saudade, das esperas e das distâncias calculadas. ajude-me a capturar a fera que me governa, me arranha e me devora de amores, pois farei de seus pêlos a minha pele e do seu corpo inteiro minha jangada.
amém.

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