15.5.08

after hours









dear,

[...] um sopro violento veio de lugar algum direto para o estômago, depois subiu pela garganta esse cheiro de vômito cheio de bílis e vozes de fogo. ajoelhado do lado da cama, eu só sabia fazer mantras de carrossel e relincho de cavalo vermelho. quando finalmente consegui me deitar, um anjo barroco sentou no meu ouvido e me dizia coisas assim: 'deus está morto. o real está morto. o amor está morto'. adormeci com a cantilena e acordei ameaçado por um terrível do sono: meu corpo singrava na noite por uma alameda européia. eu via todos cadáveres - os de ontem e os de hoje - flutuando pelas amuradas de um pensamento morto. a raiva, o êxtase, os planos, as batalhas se derretiam numa nuvem de pó e gafanhotos. dear, mais triste que sonhar é saber que estou enchendo o vazio de mais vazio como quem coloca o silêncio dentro do silêncio. esta noite estou perdido, o telefone é um fio partido, a minha cara de antes só me vê de partida. [...]

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