15.12.08

oração


my dear,

o dragão cuspidor de fogo passou de raspão e queimou minhas mãos quando eu me enroscava nas cordas. a queda teria tanta importância não fosse a beleza insuportável dos seus lábios - doces, delicados, entreabertos num sorriso esboçado. foi quase nessa hora - a de sobrevôo - que percebi o quanto as palavras não tinham nome ou rosto quando comparadas ao gosto que tenho pela fricção ruidosa do seu corpo. estranhei os poemas, estraguei a canção, me fiz ao mesmo tempo de criança e cordeiro. inteiramente inocente. perigosamente puro. desintegrando o ar soube que na arqueologia da carícia, desenterraram minhas veias, pulsões, vértebras e pulsações. a palavra lavra a terra da coisa antes jurada. o sussurro ao pé do ouvido enterra a semente e ara novamente a terra. é tão bom saber-me pensado, sopesado no seu ventre e no pensamento-lavrador. queira-me como a promessa de fartura, a subterrânea verve - verde deliciosa -, um campo florido, uma vertente de água pura. só não me segure mais, pois já não posso com a queimadura das minhas mãos. já não posso com as setas e o sopro do dragão. já não posso pedir pelo que não quero, são sebastião. santo soldado, pretoriano protetor, confesso não ser mais cristão. confesso que pequei ao desistir do ar e voltar ao chão. cair da bolha de sabão, da frágil armadilha que me detinha a muitos pés e muitas milhas. então me detive para desistir de fingir que sabia voar para longe. ou para fingir que não sabia mais, só para ficar outro tanto. cheio de gozo, êxtase e paz.

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