26.1.09

rien.



my dear,

o tempo do desastre está acabado. os postais na mesa do quarto ficam à espera de um grande amor. eu tenho um, você tem outro. e não há nada de irracional no meu corpo que provoque a tua fascinação. pelo contrário, a razão enche os signos de sentido e me afasta por completo do seu posto. o meu lado é o oposto, o traço de cá, a carta extraviada. levantei a guarda bem alto, sim. desisti dos carteiros e dos recados por baixo da porta. talvez porque a incapacidade de viver a solidão seja um problema humano. talvez porque faz calor, passo mal e não chove. acredito que eu mesmo inventei a insegurança. o ciúme que veio depois levou à destruição do objeto amado, ao sequestro da felicidade do outro. mas não há espaço para estocolmo. estou longe, a milhas. e o que me resta? a memória involuntária do primeiro beijo, a redoma de vidro, o oceano de fogo. a rotina da morte é a lembrança. e logo vai vir o carnaval dos mortos. as ruas cheias de fantasmas e fantasias sem graça. o tempo do desastre se foi. restou o edifício inteiro da história, em ruínas, para que eu faça do tempo uma reconstrução. e das sombras, das sobras do gato, o fio condutor de luz e mais. mas se não puder me dar paz e amor, anna akhmatova, dá-me, então, a amarga fama dos meus escritos. dá-me os carteiros desaparecidos. dá-me o nada.

Um comentário:

nandoav disse...

por mais puros seja a vontade dos signos, infelizmente existe a incorrespondênciadas das vontades. o muro tão alto esta que não se consegue ultrapassar. foi tentado, mas foi as favas. a memoria involuntária então será algo mesmo de único, de concreto. Os fantasmas que virão poderão oferecer ao mestre a sensação de companhia, mas breve será verificado o quão solitário ainda esta. O carteiro um dia quem sabe, trará a boa nova.

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