11.8.09

o mistério

meu amor,

era para ser um halo, mas foi a costa sudoeste que desceu em mim, fumegante. devia ser a lua, não a última visão da cidade arrasada, da carne espalhada em pedaços de nuvens e algodão cru. em flocos, em flocos de ouro puro o que sobrava da serpente virava escama. fora a luz acesa do ocidente, a vela da mesa não significava mais nada. um sopro morto e mudo. já faz tanta memória que tenho saudades. fazem tantos recuerdos que nem sei por onde começar. o coração se enchia de sonhos. eu queria ser outra vez a europa, as ruas cheias de história e o continente dentro das nações. eu queria de novo a índia, o flutuar da flauta, o turbante roçando o ouvido. eu queria inventar o sono de novo só para caber no sonho. e me fazer maior do que posso, o mês de maio, o major. era para ser majestoso, a posse de uma jaguatirica, era. não fosse a derrota diária do leão e a coisa estranha que surgiu depois do fim de nós dois.

Um comentário:

Dan Oberdan Piantino disse...

"já faz tanta memória que tenho saudades. fazem tantos RECUERDOS que nem sei por onde começar. o coração se enchia de sonhos". (foi aqui que minha leitura se viu presa e se rebelou).
.
Eu, como leitor, mergulho no mar de muitas iscas. Viro-me para o alto e vejo círculos de luz na superfície. São lindas imagens que me seduzem e distraem. Não tenho escolha, preso na beleza dos halos, cairei em uma ou outra isca. Não tenho escolha, por uma isca ficarei preso em todas.
Como marionete, suspensa em fios (de ariadne, de narrativa, de símbolos), passo a me sentir destinatário... é então que se desfere o golpe: depois de decretar o ideal de um passado, impossível de ser reestabelecido; depois de colocar o leitor no local impossível desse "amor", colocado (inventado), também, como impossível, o remetente decreta o fim (como um juiz, como a rainha de copas em Alice: "cortem-lhe a cabeça!"- vc precisa ler o 2º capítulo do asceta, é um pouco disso).
Diante do fracasso (seja dos sonhos, seja da metrópole, seja da civilização), cabe aos que sonham sobre ruínas se reconhecerem como semelhantes. Da invenção passarão a trocar histórias entorno de uma fogueira feita de escritos, papeis que pouco valem diante da parole (a linguagem cai diante da língua).
Talvez haja um fio de esperança nesse texto... "talvez" não. gosto de como experimentou na escolha da imagem (fantástica aliás), pela voz em um ritmo mais suave, pela concisão madura. Lindo de contradições o seu texto, o leitor agradece (vejo halos de luz na superfície da escrita do mar-cio).

Pesquisar o malote