2.11.09

dos mortos, dia.

dear,

eu prefiro a revolta secreta das palavras, a das cartas para nada, extraviadas da intimidade entre dois escreventes. eu prefiro chamar as coisas por nomes diferentes. a mesma coisa, dois nomes, mil nomes, não importa. já chamo você por um vocativo genérico, o que me parece suficientemente pornográfico. aliás, é isto o que nos distancia: as infinitas possibilidades de gozo. e de jogo. verdade que assumi, também, o blefe e o gosto pelas cartas marcadas. o timbre cortante de espadas; de costas, assinaturas de naipes; de fora, o ouro; arrasado e por dentro, as copas de um peito manchado. verdade que aprendi a mentir em troca de outras verdades, só para que fosse confessada, de joelhos, a mentira. talvez, por isso, tudo o que tenha tocado suas mãos, tenha desaparecido. o acesso à mentira é um blefe de jogador. hoje conjurei seu nome enquanto o dia desaparecia. talvez porque, quase sempre, no dia dos mortos, tudo volte ao lugar. antes de escrever eu encontrei seu fantasma pela multidão, a presença translúcida de um morto de há muito tempo. as coisas que me disse, fiquei sem saber, sem acreditar. não acreditei antes, não acreditarei agora. embaralho novamente as palavras, os pedidos apaixonados, as cartas que escrevi sem mandar. e peço apenas uma coisa: corte. interrompa o fluxo, esqueça desse orgasmo sujo dos dias de veraneio.

Um comentário:

doce lembrança disse...

Tudo sempre volta aos lugares...
Versos não ditos com clareza no momento certo,
Dúvidas e incertezas provocadas,
Pouco a pouco
As palavras
Se tornam mortas,
Perdidas no tempo,
Ressentimento é o que resta, Pedidos de esquecimento
E uma resposta de aceite
Fica então assim combinado
Esquecido...
Cartas, palavras... e o que mais se desejar.

Pesquisar o malote