20.1.10

swimming


dear,

é hoje que vou atravessar a rebentação. o oceano há de me deixar desta vez, o mar não vai me lançar de volta, ao quebranto das encostas, às águas de maré fria. me pergunto de ouvido: pra que tanto sal se ele não me lava? pra que engulo a água salobra se ela não me limpa? ah, desde manhã cedo acordei imensurável. é hoje. e acredito mais do que nunca que o amor é minha religião, meu religare. por isso recuso o naufrágio do meu corpo em uma porção de terra sombria, pequena ou continental. recuso que eu seja estranho aos meus desejos. atravesso a rebentação à força, mesmo não sabendo nadar. mesmo correndo o risco de morrer. mas o que aconteceu com meu corpo? é um acidente, foi, talvez seja. a parte afetada do meu corpo não é visível. não consigo enxergar, mas sei que há alguma lesão. a parte afetada do meu corpo está imersa em sangue e músculos. não posso tocar, mas posso sentir. a metáfora é uma das partes. por isso há uma ferida no corpo-pensamento, há uma ferida em mim, ardendo no litoral. deus, deforma a realidade bruta que eu vejo, desfigura a fealdade das coisas até me devolver algo bonito de se ver. e deus: me ajuda a nadar, por favor. não quero me afogar, não quero perder o ar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Inexplicável e imensurável é o seu talento, Márcio...

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