7.4.10

[tive demora em escrever, dear]

dear,

tive demora em escrever. tanto intervalo longe que mal suportei a coragem de voltar. é quase heróico o movimento de ser o mesmo. e sempre. sem duplicação, nem múltiplos, com a aura ainda intacta. não consigo me desapegar dos sonhos, das fábulas, da orgia perpétua da invenção. voltei ao ponto zero, para o sortilégio da fantasia de querer & querer & ter desejos. dos mais impossíveis, os melhores. talvez seja a espera que produza melhor efeito. certamente o amor sem realização faz a alegria de um poeta. enquanto espero quem não vem, volto aos trilhos do trem, volto ao equador. desembarco nos trópicos: e eu quero tudo de novo: os cheiros soltos pelo ar, aqueles que eu capto de passagem, feito um vórtice: a imagem de um rosto, um sorriso qualquer, que eu possa lembrar por horas a fio: o roçar descuidado do dorso de uma mão sobre o dorso de outra: o suspense anterior ao primeiro beijo, ao primeiro encontro, à primeira palavra. eu tive que demorar. foi preciso pedir. precisei perdão a deus e a mim. por estar em outro tempo, tempos difíceis aos sonhadores, e no qual não me sinto seguro para viajar.

2 comentários:

Anônimo disse...

os desejos acordaram assassinados pela traiçoeira manhã.

Anônimo disse...

Sim, o suspense anterior ao primeiro beijo..
Ah.. o beijo, o começo e o fim.

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