23.5.10

o terrível império


honey:

antes mesmo que eu acordasse, o silêncio já havia se instalado pela casa. o silêncio veio pisando macio pelos pisos de taco, entrou pelo quarto, deitou na minha cama e me acordou. com tristeza, percebi que ele havia voltado. assim que virei o rosto, vi as malas semi-desfeitas na sala. vi o mesmo rosto de nada e a mesma presença de ninguém. o silêncio me beijou como me saudasse, mas eu tive vontade de cuspir sua saudação e sua saudade de mim. debaixo do chuveiro tentei ouvir apenas o barulho da resistência aquecendo a água que caía. tentei sufocar o império do silêncio que lá fora me esperava. qual golpe militar eu poderia empreender agora? qual república eu poderia instalar para me ver livre? eu precisaria de uma voz. uma outra voz que acordasse com a minha. (e com dois seres falando alegremente, o silêncio nunca mais se instalaria). e ainda que pudesse tentar voltar de tempos em tempos, bastaria que eu recordasse uma risada, bastaria que eu discasse um número de telefone, bastaria - o melhor de todos - bastaria que eu abrisse a porta e sorrisse com a chegada de outro timbre, outro som, tão cúmplice e tão singelo.

Um comentário:

Anônimo disse...

será que devo assediar tua casa para saber da existência da minha?

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