1.6.10

medicina corporal


dear:

percebo que tem feito diagnósticos de mim nas cartinhas que envio. é como o médico que, tirando o termômetro do braço do paciente, diz: 'está com febre'. há muitos outros sintomas que nem suspeita e nunca apareceriam nos compêndios de medicina. eu sei que não faz por mal, eu entendo. apenas queria que não tornasse tão indistinto o discurso que é de mim e o que é do tu. ou mesmo de ti. muitas vezes escrevo como se tu me escrevesses mais (ou ainda). tudo porque nunca recebo respostas tuas, nem cartas nem bilhetes por baixo da porta. tu sempre me violentas com o que sabes ser o pior para mim: o silêncio, a ausência. algum dia eu disse a ti, no teu seio, me alimenta do leite mal? algum dia eu disse más palavras, mascaradas, enfeitiçadas da lavra de ouro? ah, dear, ultimamente eu tenho falado aos ecos do espelho que tenho todo o possível de ti: a marca fantasma do teu rosto na almofada. e te  vejo, muitas vezes, com insistência. tu por trás da minha morada, tu por trás da porta, tu por trás do meu corpo, tu por trás dos meus olhos, tu por trás da minha alma. tu em dó e em dor. é tudo o que tenho. ah, já que tu sabes, me prescreve algo pra matar a saudade ou pra me saciar de ti. e sem homeopatia. de IMEDIATO.

3 comentários:

Anônimo disse...

ao mesmo tempo em que busco a cura, eu mal posso compreender se o que emana de ti é finalmente antídoto ou veneno.

Anônimo disse...

sinceramente... você não pode entender..

GUINA disse...

Uma grande desgraça, um maldito alucinógeno que invadiu os lares para destruí-los e apodrecê-los, moral e espiritualmente (sentido filosófico da palavra) foi a Televisão. Este poderia ser um extraordinário veículo de formação de valores éticos, cívicos e morais de suma importância, mas, devido ao fato dele ter nascido e adquirido a finalidade praticamente exclusiva para fortalecer a política neurótica da cultura do industrialismo, então, vamos testemunhando o fim dos sentimentos estéticos e sensíveis por parte do homem moderno, que não mais contempla nem se dá mais ao prazer de se sensibilizar diante da beleza das coisas e das nuanças do cotidiano, e, consequentemente, o nascimento de uma novo tipo humano condenado, cada vez mais, a distanciar-se do amor, da fraternidade e da solidariedade para assistir, dentro dele mesmo e sem a devida consciência crítica, o renascimento dos valores atávicos, primitivos ou monstruosos, tão muito bem previstos pelo Filósofo Grego Aristóteles, pelo judeu-alemão Karl Marx, pelo judeu-alemão Sigmund Freud, por muitos teólogos modernos e intelectuais sérios, embora nenhum deles tivessem falado, por exemplo, que o nascimento de tais monstros ou os traços dessas monstruosidades primitivas teriam que chegar, também, no universo psíquico de muitos Estadistas, políticos, autoridades e outras personalidades que se acham e proclamam condutores da Humanidade. É o fim, ao que parece, da continuidade da beleza da vida, como reflexo decorrente da evolução de uma cultura humana e humanística, para dar lugar a psicopatia do industrialismo e a transformação paulatina da Humanidade em seres apenas miseráveis e tristes consumidores, sem mais direito algum de serem saudavelmente felizes, porque a indústria do consumo e o Coliseu romano moderno, que é a Televisão, se juntaram, sob o apoio irresponsável de políticas econômicas holocáusticas, por parte dos Estados modernos, para dizimarem a alegria natural da alma humana. Resultado: o homem vem se transformando em matéria brutal, férrea, sem mais janelas como antigamente.



PORTAIS


Ora, janelas não existem mais
se, porventura, ainda as tem
muito poucas são aqui e além
todas estão sem mais ninguém

Antes, abriam-se como postais
páginas de livros encantados
flores abertas ao sol matinal
porque nelas, sim, tinha gente

Os velhos abriam-nas contentes
apreciavam detalhes do tempo
enquanto os jovens, ah, estes

Olhavam o mundo com ternura
Agora, isso está morrendo...
A vida ganhou estranha morte.


Guina

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