22.9.10

vestígios


honey:

ao chegar em casa, notei a cama desarrumada, um sinal claro de tua presença. sentei-me perto da cabeceira, fechei os olhos e deitei-me. com as mãos eu tateava o tecido, convocando o algodão a me contar os segredos de tua aparição, as coisas que ele viu e ouviu enquanto eu não estava. procuro seu cheiro no ar, selvagem, como um selvagem enfiando os dedos nos rastros de um felino e calculando sua distância. de onde eu estava vi um copo, displicentemente deixado no criado-mudo, talvez ainda com gosto de tua boca e saliva tua. nada mais sabia de ti neste quarto -os móveis não souberam me contar. é indizível. inominável. teu corpo aqui é um milagre divino. não há outra explicação e nem pode haver. na sala encontro outros vestígios: o cheiro de café derramado, o eco de uma risada, a imagem do teu sorriso ainda pendurada no espelho. eu peço que me digam: onde está, por onde foi? nada me dizem. são as testemunhas ignorantes do amor. caminho descalço até a cozinha e encontro teu desenho e teu recado na porta da geladeira. tremo. é um presente tua existência. e eu a quero tão dentro de mim quanto eu a sinto hoje.

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