8.10.10

lo que siento


dear:

esta madrugada não é igual às outras e tu, só tu, podes imaginar o porquê. tu também não recebeste aquelas cartas, aquelas escritas de cor e coração inteiro. eram sempre pela metade, escritas em partes, pedaços, irreproduzíveis de tão incoerentes. tu fizeste bem quando me disseste: há uma certa dor, suportável até, quando amamos alguém que não possuímos, pois está distante de nós e nada podemos fazer. mas tu, de igual modo, conheceste a pior das dores como eu: deitar os olhos por alguém que está diante de nós e que, em humildade cega, nos ajoelhamos para pedir que nos possua de verdade. seria amor este tempo que é sempre interrupto, gasto, pouco, escasso? tento acreditar que sim, é possível que seja, sou dado à fantasia. é a ária de todos meus sonhos, estrangulada na garganta, que faço subir agora pelas paredes da página. não: não: não: eu não quero mais me contentar com o mínimo. eu desejo. eu quero ser feliz, ser um sopro, talvez um anjo. e para que aconteça preciso abandonar a estupidez: 'não, meu amor, não é disto que falo, não quero andar de mãos dadas contigo pelas ruas. não é preciso. quero apenas o afeto de todos os dias, algo presente mesmo que a duas cidades de distância'. estou cheio de juras e pensamentos que não são meus e que não os tenho. não quero relatos retrospectivos do que pensou há três, quatro, cinco, seis, sete dias atrás. quero a memória de hoje no meu ouvido, quero, quando possível, o cheiro de suor do dia. posso admitir a ausência de ti ao longo das coisas desde que o espírito sempre esteja fazendo voltas em mim. e o que estás aqui? quando der, quando puder, quando for, quando eu permitir, quando e se. vivo intensamente como um segredo. então não sei se posso desgastar a pele assim nas muralhas da janela, assistindo o mar de longe. tu conheces o animal sedento que me governa a capital, não há como domá-lo. não há. wild is the wind. my love is like the wind. o meu coração uiva no vento porque de todas as pessoas que conheci, dentre todas as que cruzaram as paisagens por mim: escolhi tu. e o que tens feito do amor? o nada, como se nada fosse lo que siento. a parte mais dolorosa é recordar neste vazio que impera a confissão mais ingênua: 'tu não fostes igual a ninguém, tu és singular, tu nunca adivinharias o quanto meu coração sorri quando percebes que és tu que sobes as escadas'. a ingenuidade romântica me queima, amor, mas prefiro calar e queimar. nem sempre são minhas as vozes, nem sempre, mas às vezes: são de cinzas as palavras, este resto de carvão, de chama laranja e de tudo que já foi violência. tu estás tão dentro de mim que quase me faço da tua sombra. e eu, me pergunto, estou de que lado em ti? estou a teus pés, amor, a teus pés.

Um comentário:

aluah disse...

meu deus como eu gostei desse texto!!!!!

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