10.11.10

você não me ensinou


dear:

as palavras nunca traem, mas as pessoas atraem a traição para as palavras. depois que os doces vocábulos saltam da língua, nas fábulas das mãos tremulam o gosto avesso. era sempre com desejo que eu as via fazer no ar um encontro, uma jura, uma promessa qualquer de cura para os dias de espera. e o que eu ganho quando eu aguardo de peito aberto, ouvido na porta, respiração trêmula? a vinda frustrada, a postergação, a coisa nenhuma, a falta.  uns quantos dias depois de silêncio. o nada. umas quantas palavras que sei dizerem nada. então: que faço das palavras com a negativa das ações que vêm em pós? o cortejo das ações é tão pesado que engole a leveza das palavras, engole o ar, a luz, a voz. 'você bem que podia perdoar e só mais uma vez me aceitar, prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la'. que vontade que eu sinto que seja compromisso o verbo já dito e repetido. que vontade sinto que não seja uma forma livre, mínima, uma declaração passageira. que vontade de não me perder no abismo de outros abraços, só porque de volta aos teus passos não sei mais me perder. que vontade que sinto de voltar à antiga oração, à frase recolhida, à fala macia da tua boca que antes enchia de alvoroço e encanto a saliva que escapava da minha. que vontade tu me dissesses a verdade, a verdade de ouro puro.

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