11.11.10

traição de penélope


honey:

todos os dias eu reponho a esperança de que retorne tão igual quanto já fora. quando estou para chegar em minha casa, minha silenciosa e pequena casa, espero que possar te encontrar de novo feito do mesmo sorriso. entre o quarto e o quinto andar, misturado aos ruídos do elevador, algo de mim dispara com muito alvoroço. é porque espero, como quem aguarda uma supresa ou um presente, espero te encontrar nas escadas de incêndio à minha espera. no entanto, no corredor do quinto andar não tenho encontrado nada nem ninguém. não me sinto ainda derrotado, pois abro a porta devagar com o desejo de encontrar qualquer bilhete por baixo da porta que diga: 'estive aqui, sinto saudades, você é meu'. e ainda não: espero os telefones tocarem, espero ouvir o sinal dos torpedos como que em guerra, espero uma longa mensagem no computador. e ainda não: aguardo até a meia-noite, até a madrugada, espero até o nascer do dia, pedindo a deus que o dia te traga antes das tuas manhãs. e depois, pela manhã e pela tarde, espero uma comunicação, telepática que seja, antes ou depois que eu mesmo parta para o trabalho e retorne - fazendo os mesmos passos de quando volto.

hoje, baby, eu sei que posso voltar, mas tu não retornas mais. perdeste o interesse? fui sufocante, tolo, infantil? fui eu que não atingiu a doçura do melhor do teu eu? ou és tu que não me amas mais e tens medo de me dizer que não era...amor? não importa mais quais sejam as respostas, teu silêncio é tão cheio de palavras que já dizem tudo. eu avisei que não suportava o silêncio, eu disse tantas vezes que não haveria como tu não te lembrares. mas tu te lembras, bem sei, o que é mais dolorido: tu te lembras. e conhecendo a minha fraqueza, enche meu corpo de dívidas e promessas que apenas jura um dia irá saldar. mas...a jura não dura mais que um dia, um retorno de sol, uma tragédia grega. ah, como eu já disse, as palavras, amor, não nos traem. somos nós, nós que traímos as palavras & os encantos lançados na areia da praia. somos nós que destruímos o retorno de ulisses e fizemos de penélope uma traição. foste tu quem me subtraiste da tua vida, fazendo da primavera interior os marulhos de um oceano sem norte.

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