17.7.16

o totem


eis-me aqui, diante de ti, para acertar as contas com meu passado. viajei até o mais longe para encontrar tu, monstro totêmico, razão de todos os meus fracassos. a ti nunca superei, e depois de tua estada furiosa em meu corpo, nunca mais encontrei a estrada tranquila dos dias. predador, predador, não fosse por este encontro, saberia ainda viver o encanto dos que tem desejo. mas por causa de ti, sim, eu dei as costas à civilização: a flor da barbárie cresceu em mim. e foi horrível, horrível. não vim de tão longe para sofrer outra imolação, voltei até o coração das trevas para sacrificar tua imagem sombria do meu pescoço. vês este machado? com ele farei minar o sangue, desfigurarei teus múltiplos rostos, deceparei tuas patas de leão, arrancarei o flanar de tuas asas. fostes ancestral em minha vida, o sinistro persecutório das penumbras, a ilha da terrível sede. mas neste momento em que me reencontro, o que digo é uma reza que me libera das liturgias que fazia a teus pés, giving you devotion. massa de carne e ossos, sangue e tripas, não significas mais nada para mim, nada tenho mais a ver contigo. teus louros escorrem pela terra, grossos e azedos; meus olhos debutam as histórias do novo mundo, nativos, ingênuos e limpos para o amor.

.: marcio markendorf

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