25.11.16

duração

honey,

brigamos outra vez. no entanto: tudo safe and sound. sem dedos em riste, palavras de ordem, pratos atirados no chão. apenas o silêncio centrípeto. as costas se mirando na cama. as mãos enfiadas entre as pernas, querendo um conforto que não há. e, sim, aquela tristeza característica: baixo profundo, feito um ganido de cão adulto, sem raça. choro que já me disse achar, com certo paradoxo, delicado e insuportável. como isto, esta data. e você acha que brigamos só porque ando sensível demais, que os dias encerrados no quarto não me fazem bem. a fratura no tornozelo, a solitude da casa fechada. volta e meia vou até a sacada, vejo o movimento da rua, sinto o vento, o sol. a vida não para. e lá dentro: as coisas fora da ordem. as roupas recolhidas na segunda fazendo aniversário no sofá da sala. a impossibilidade de deslocar o que quiser pela casa. duas muletas, duas mãos ocupadas em se equilibrar. andar é quase o que não faço, exceto nos cercados metros quadrados deste lugar. restam os filmes da televisão, a lista dos livros, o videogame como companhias insossas. e o cansaço de estar muito tempo comigo mesmo. e também com: as ranhuras na parede de gesso acartonado, a espera ansiosa pelo banho noturno, a despensa aumentando o vazio. me põe para baixo o cansaço do tempo que ando só, vendo os paranhos a aparecer nas esquinas do teto, notando o acumular de pelos nos ladrilhos da casa, ouvindo sem curiosidade os sons do corredor do prédio. se estou sensível é por este vazio, esta espera insuflada. como uma raposa que prepara o coração desde as seis da tarde, eu me preparo para sua chegada. o gesto ansioso de um cachorro a espera cronometrada do dono, depois de um entediante dia consigo, com seus latidos e nenhum afago. brigamos again. no entanto: quando ouço a porta se abrir, depois de tanto tempo aqui, tudo se desfaz. e somos nós dois outra vez.

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