21.9.18

feriado

dear,

o feriado desceu nas sacadas, nas ruas, nas gruas da construção civil. e eu caminhei por esse dia pachorrento, tímido das gentes, um tanto nublado, como quem abre um mar silencioso. queria mesmo é passear pelo bosque dos sicômoros, de mãos dadas contigo. deitar em verdes pastos feito imagem bucólica, cheia da febre dos campos e do amor dos pastores na relva. desceríamos o dia como em devaneio, friccionando as pálpebras contra as bocas da noite, esperando por beijos demorados de lua. não me consola essa paralisia do dia, essa distância, esse intervalo. o amor nunca deveria ter folga de trabalho. mas: as janelas estão fechadas e só me lembro de nós, interrompidos na estrada, debaixo de uma escada e com bastante azar. enquanto os outros dormem atrás das cortinas, acordado eu singro pelos sonhos, faço deles meu próprio mito, minto para mim que a fantasia pode virar estátua, pode virar gente, pode virar alegria. chutando pedras pelo caminho, vendo bisontes pichados pelas paredes, voltando a uma época pré-histórica, regredindo a um ponto osso, eu conjuro os dinossauros enamorados. eu conjuro a lactação infinita, a via láctea de um seio materno, derramando sobre mim um leite bom, um labor de amor que nos construa e faça de nossa existência multidão.

.: marcio markendorf

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