15.7.05

correspondência. conversas.


my dear,
acho que não lhe contei antes, não pense que por deslealdade, mas de sempre em semper eu dou a falar com cachorros. não importa onde eu os encontre ou como os encontre, brancos, malhados, sarnentos, eu converso com todos. volta e meia alguém me olha de atravessado por isso, quando eu dou um 'au au' para outro cachorro ou algum 'hey mr. dog'. devem pensar que sou louco, mas imagino que eles ainda não descobriram a imensa felicidade que existe no falar com cachorros, seja na rua, na grade de uma casa, no pet shop. também não sei porque estou dizendo isso. talvez por causa dos sonhos. ontem à noite sonhei com cachorros. um preto, amarrado na casinha, peludíssimo, um collie. o outro, um branco, pêlo curto, rabo longo, meio vira-lata, solto pela rua. o que me chamou a atenção foram as cores, branco e preto, e a relação entre aprisionamento e liberdade. eu só brincava e conversava com o branco. até que a dona dele brigou comigo, porque ele poderia me seguir e se perder. então eu dei a falar com o preto. você percebe significados ocultos, relações antitéticas, submissão de desejos? é. preciso contar da minha vida. não pense que por deslealdade que falo com cachorros e que sonho com eles. no amor, cachorros são mal sinal, embora exista o estigma da lealdade, de melhor amigo. eu tentei gostar de gatos e conversar com eles, mas me deixam impaciente, me entediam, me irritam. cheguei até a adotar um gato, preto. chamei-o plutão em homenagem a edgar allan poe, bem coisa de quem faz literatura. mas não o suportei nem por um mês e o expulsei de casa. aquele miado irritante por todo canto, aquele arranhar de garras pelo sofá, almofadas. como eu queria ter um cachorro, ao meu lado, mas um cachorro inteiro, um completo cachorro. só não tenho espaço. e sigo, conversas pela rua, au au cachorrinho.

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