diários.

nem sei. acontece, sabe? de repente tudo ao redor vai se movendo em outra velocidade. flashback, flash forward, pause. fiquei pensando se foi alguma coisa que eu disse, ou o que eu fiz. desfilei pela memória tudo, absolutamente tudo. engraçado que ainda tive tempo de pensar num carrossel, minha mãe me olhando, os cavalos girando, risada, música, upa cavalinho. parque de diversões. eu já quase me afoguei numa piscina de bolinhas de plástico, daquelas bem coloridas. bem, não era exatamente um afogamento,mas eu fiquei soterrado, não conseguia me mexer, nem me levantar, só pude erguer minha mãozinha, como quem está debaixo d'água mesmo. e ainda levou tempo para alguém me ver, acho que foi todo o tempo do mundo. deitado no chão eu olhava aquelas bolas vermelhas, amarelas, azuis. talvez não fosse tão ruim morar para sempre numa piscina de bolinhas. acho que foi isso que pensei. ou talvez só quisesse mesmo sair de lá. como agora. bem que eu poderia montar meu cavalo, lápis-lazuli, negro, corcel, cavalo de fogo, sarah, diadorim, era desenho, lembra? encilhar um animal desses e sair galopando a noite toda, para qualquer lugar. só que as coisas não se resolvem assim. partir e voltar não mudaria nada: um grande carrossel que gira e não sai do lugar. então o que eu preciso dizer? sai palavra, abracadabra? não tiro coelhos da cartola, só pulsos do coração. este é meu impulso. queria tudo na mesma velocidade.