11.8.05

notas avulsas e sem graça.




obviedades: meu corpo se cansa. por que eu espero tanto e não me levanto logo e vou embora? foi ciúmes eu acho. toda carta tem destinatário outro, não como o diário que se escreve pra você mesmo [correndo sempre o risco da espiada curiosa]. mas escrevo cartas meio inventadas, que correio algum gostaria de entregar. aliás, sempre quis ganhar uma camiseta pólo amarelo-correios. deve ser ótimo, no mínimo, engraçado, ser um carteiro à paisana. no entanto, disfarce: que eu te passo as cartas por baixo da mesa, sem selos, sem marcas, sem descarte, debaixo do veludo verde da mesa redonda. cena: sombria, apenas uma luminária pendendo acima de nossas cabeças, como nos filmes. talvez uma fumaça de cigarros, talvez bebidas. algum dinheiro, fichas. vai apostar em mim? pensei bem hoje: será que eu invento a solidão: ou ela é que me inventa? me faz personagem de um autor abstrato. e com muitas cicatrizes. cada cicatriz, uma história que eu conto e conto e conto e transformo em labirinto de línguas secretas. esquecimento? coração não esquece, meio que pára na terra do nunca, não se move pra cima ou pra baixo, não cresce como esse meu corpo de criança. e se peter pan morresse? acabariam as metáforas de vida longa e travessura? faz silêncio agora, deita no meu travesseiro e dorme, que eu te conto uma história: tá vendo essa marca aqui?

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote